segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Chegar aos 50 - 1º e 2º ato

1º Ato
Chegar aos cinquenta é alcançar o topo do muro que precisamos transpor para continuar nossa caminhada. Não sabemos exatamente o que encontraremos do outro lado do muro, sabemos, apenas, que necessitamos prosseguir.

Aos 40 anos chegamos ao pé do muro. Olhamos para cima e analisamo toda a caminhada que fizemos até chegar aqui.  
Pensamos se vamos conseguir escalá-lo até topo. A decisão a  seguir é, tão somente, por onde subir, afinal, não existem portões. 

Começa, então, a escalada rumo aos cinquenta. Antes, agradecemos  por estarmos vivos, afinal, "só não vai atrás dos 50 quem já morreu!"

Quando pensamos no que nos contaram aqueles que lá chegaram, a subida se torna assustadora:  "De repente você não enxerga mais!", "O braço fica curto!", "A gravidade entra em ação!", "A pele fica flácida de um dia para o outro!", "Manchas brancas habitam sua pele sem permissão e ainda disputam, com as marrons, um espaço ao sol!" 

Enquanto subia eu pensava: - comigo será diferente!

Quando eu cheguei ao topo do muro, por mais que tenha vivido tudo o que foi testemunhado pelos outros, tive uma outra visão: minha pele, antes oleosa, com sebáceos e  cicatrizes, estava lisa e sedosa - parece foto com filtro do Instagram, pensei! Em minhas pernas, vasos e estrias haviam desaparecido, como se tivesse usado a borracha do Photoshop. Os fios da sobrancelha não cresciam mais, tinham parado no tempo, e os fios brancos, no cabelo, apenas alguns poucos. 

Ah! Comigo foi realmente diferente - pensei, na verdade, vangloriei! A menopausa fez maravilhas em minha pele, meu cabelo, por todo meu corpo. Tudo, até onde enxergava, estava perfeito (ou seria melhor, como enxergava?).

Chegar ao topo do muro me fez respirar aliviada. O que viria agora? Desacreditada em tudo e em todos encarei meus 50 feliz e radiante, até que...

2º Ato
... me vi forçada a (re)abrir a caixa que recebi aos 45 anos e me negava a usar: os óculos para perto!

Foi quando, do outro lado do muro, tive que enfrentar a mais dura, e sem filtros, realidade: 

- as sobrancelhas eram como uma reserva florestal no meio da mata, em volta todos fios ainda cresciam;
- 50 tons de cinza surgiram, em todo o meu cabelo;
- dos ossos a carne das minhas pernas, glúteos e braços se desprenderam e balançavam insistentemente;
- estrias eram como o aplicativo do waze, com sinalizações e uma voz anunciando: a 5m agache, a 10m pule, corra 3k ... tem que melhorar isto!;
- vasinhos viraram um mapa hidrográfico, passando, de um glúteo ao outro, por vários montinhos - de celulite;
- a minha pele, com óculos ... melhor sem óculos!

E durante a descida, descobri o muro das lamentações:
- como dói minha coluna, minhas pernas...
e do esquecimento: 
- o que eu vim fazer aqui mesmo?!
- onde eu coloquei os meus óculos!?!

Hoje, meu melhor e necessário acessório é a "Cordinha salva óculos!" 


Cordinha para óculos - Bee Colaborativa
Cachepô de crochê - Dolê Crochê
Mini vazo - Juliana Pitwak

A natureza é muito sábia, coloca um filtro em nossas vistas para o aquilo que está próximo de nós, com o firme propósito de não abandonarmos a caminhada após transpormos o muro, porque, na verdade, o que importa está longe e precisamos alcançar: o resto de nossas vidas!

Que venham mais 50 anos!!!


Texto Mara Débora

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